sábado, 24 de novembro de 2018

Negri e Hardt

Temas

Comum, Multidão, Império

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Totalidade

Império e multidão sem mediação dialetica

Antonio Negri
Filósofo marxista italiano.

Críticas do conceito de trabalho, advento do trabalho simbólico, ausencia da dialética
e a lógica do império.

A história do filósofo político marxista e militante radical cuja obra dialoga com Foucault, Deleuze e Espinosa, Gramsci, Vattimo, Aganbem , Habermas, Wallerstein
opção radical pela democracia.


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Negri decreta o fim da dialetica

por Rubén Dri

"Ao alcançar o nível global, o desenvolvimento capitalista encontrou-se directamente confrontado com a multidão, sem qualquer mediação. Daí que se evaporasse a dialéctica, a ciência do limite e a sua organização". (Antonio Negri, Imp p. 222).

Um dos eixos do pensamento de Negri é a sua negação da dialéctica, apesar de se considerar marxista e de tomar partido por Marx, pois afirma pensar “com Marx e para lá de Marx” (Kam p. 11). Consegue, assim, aquilo em que fracassaram já outros dignos precursores como Althusser, Della Volpe e Colletti. Negri combina negações cortantes da dialéctica com outras, em que lhe concede algum alcance que definitivamente terminou com o advento do império.

Este é um tema central, a raíz dos desvarios da concepção de Negri, no qual me deterei um pouco, passando primeiro revista aos antecedentes citados. A discussão sobre o tema da dialéctica no pensamento de Marx gira em torno dos conceitos de ciência e de materialismo.

Efectivamente, se o “científico” é o que corresponde ao conceito de ciência natural, é lógico que não pode haver uma “dialéctica científica”. E não pode porque a dialéctica não pertence aos objectos ou coisas como entes separados da sua relação intrínseca com os seres humanos. Uma pedra ou uma mesa, se as considero em si mesmas, fazendo abstracção da sua inserção nas relações sociais, não podem ser dialécticas.

Simplesmente “são”. Isto leva-nos, por sua vez, ao materialismo. Se o que se entende por tal é a matéria em si, é a pedra, a mesa, os átomos, aqui não pode haver dialéctica. Simplesmente são. Um físico que estuda a composição da água, descobre leis, composição e decomposição de elementos, nada más. Aí não intervém a dialéctica.

Intelectuais marxistas como Althusser e Poulantzas, em França e Della Volpe, Colletti e Cerroni, em Itália, reflectiram, debateram e discutiram longamente sobre o estatuto “científico” do marxismo, entendido este como pensamento de Marx [1] , e esbarraram na dialéctica e na relação de Marx com Hegel. Mas, para todos eles, a ciência era a ciência natural, a que surgiu nos alvores da modernidade, com fundamento matemático, e que tantos êxitos havia logrado.

Para Althusser o marxismo é a ciência da história que rompeu com toda a ideologia. Como ciência da história, denomina-se “materialismo histórico”. Distingue-se do marxismo como filosofia, reduzida esta a uma epistemologia que traça o limite entre a ciência e a ideologia, e recebe o nome de “materialismo dialéctico”.

Como o conceito de ciência de Althusser é o que foi elaborado na base da epistemológica matemática, o mesmo que aceitava plenamente Kant e do qual partia para examinar as bases de todo o conhecimento verdadeiro, tropeça no problema da dialéctica que, de nenhum modo admitem, quer as matemáticas, quer a física, as duas ciências que Kant apontava como conhecimentos fundamentais.